Na cidade de Canindé, no Ceará, fiéis têm arrancado ladrilhos da base da imponente Estátua de São Francisco das Chagas. O objetivo é inusitado: preparar um suposto “chá milagroso”, acreditando que a mistura teria o poder de curar doenças.
O caso, registrado em vídeo no último domingo (14), ocorre justamente após a inauguração de uma grande obra de revitalização no local. Dessa forma, levanta um debate urgente sobre os limites da devoção e a preservação do patrimônio público.
As imagens que circulam nas redes sociais mostram uma mulher, ainda não identificada, forcejando para soltar e retirar as pastilhas de ladrilho que revestem a base do monumento. A ação, que pode parecer um simples vandalismo, tem uma motivação mais complexa: a fé.
De acordo com a Área Pastoral São Pedro da Paróquia local, um boato começou a circular pela cidade afirmando que esses ladrilhos, quando fervidos e ingeridos em forma de chá, possuiriam propriedades curativas. Impulsionados pela esperança, alguns devotos passaram a ir até o local para coletar o “ingrediente milagroso”. Desse modo, danificaram a estrutura que acaba de passar por uma revitalização.
Um patrimônio cearense em risco
A Estátua de São Francisco das Chagas não é qualquer monumento. Erguida no Alto do Moinho, é uma das grandes atrações turísticas do Ceará e um dos locais de peregrinação religiosa mais importantes da região. Com 125 degraus que levam a um mirante, a obra foi criada pelo artista cearense Deoclécio Soares Diniz, o “Seu Bibi”, e é um símbolo de identidade e fé para milhões de pessoas.
O ataque ocorre em um momento emblemático. Apenas dois dias antes, o Governo do Estado havia inaugurado a primeira etapa do Complexo Comercial e Revitalização do entorno da estátua, um investimento de mais de R$ 13 milhões para modernizar e acolher melhor os milhares de romeiros que visitam o local.
A Reação das Autoridades: Entre a Repressão e a Conscientização
A princípio, a Prefeitura de Canindé foi enfática em seu posicionamento, classificando a ação como vandalismo puro e simples. Em nota oficial, afirmou que a prática, “longe de representar um gesto de fé, configura dano ao patrimônio público e está sujeita às sanções previstas em lei”.
A administração municipal ainda ressaltou que já realiza investimentos para manter o espaço. Ao mesmo tempo, está desenvolvendo um “projeto de proteção controlada” para o monumento, que permita a visitação sem comprometer sua integridade.
Do lado da igreja, a estratégia é de conscientização. O Padre Francisco, da Área Pastoral São Pedro, informou que vai reforçar com os fiéis a importância de respeitar os monumentos públicos, especialmente com a grande romaria de São Francisco se aproximando, que acontece entre 24 de setembro e 4 de outubro.
*Jair Sampaio

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