O cenário também é reflexo da pandemia da covid-19 que interrompeu as aulas presenciais, sendo que muitos jovens não conseguiram acompanhar aulas virtuais e precisaram se dedicar a alguma atividade laboral para ajudar a família, resultando em desistências e reprovações. “Existia distorção de idade em anos anteriores, mas agora é muito maior. Aqui aumentou 60%. Temos estudantes de 18... 19 anos na primeira, na segunda série do ensino médio”, relata o vice-diretor da Escola Estadual Winston Churchill, no Centro de Natal, professor Ítalo Yuri.
O estudante Jailton Dantas, 17 anos, repetiu no 6º ano, conseqüentemente atrasando nos anos seguintes. Atualmente está no segundo ano do ensino médio e aposta na carreira nas Forças Armadas tanto por se identificar com a área e ter uma renda, quanto para compensar o “tempo perdido”, uma vez que todos os jovens na sua idade são obrigados a se apresentarem para o serviço militar.
“Sei que pra fazer carreira lá será preciso estudar mais. Quero concluir o ensino médio ao mesmo tempo em que estarei servindo nas Forças Armadas. Com maior dedicação, eu creio que não vai interferir muito o fato de eu estar fora da idade”, declara o jovem.
Na mesma perspectiva, Samya Daylana, de 19 anos, que está no 3º ano, analisa que isso poder atrasar seu currículo profissional. “Pode ser que interfira em algo no meu currículo, mas não me sinto atrasada. Reprovei em anos anteriores e hoje estou numa turma com idades variadas. Acho que em relação à aprendizagem estamos nivelados”, diz ela.
De acordo com a PNAD Contínua, o Rio Grande do Norte tem 96,9% dos alunos entre 6 a 14 anos no ensino fundamental, ou seja, na idade indicada para este nível de escolaridade. Contudo, a situação se torna preocupante quando muda a fase, chegando a 66,6% de alunos entre 15 e 17 anos no ensino médio, que é a idade ideal.
Observa-se aí uma queda de mais de 30 pontos percentuais entre a quantidade de alunos que estão no fundamental e conseguem chegar ao médio na idade certa. É a maior diferença entre os estados do Nordeste de um nível para outro e a terceira no ranking nacional dos 27 estados e o Distrito Federal.
A especialista em educação, professora Cláudia Santa Rosa, diz que a educação passa por uma realidade delicada e não apenas no Rio Grande do Norte, mas em todo o país. “Temos uma Escola com pouca vontade de atrair e manter o jovem e eles enxergam que é melhor estar fora da escola e no mercado de trabalho informal, inclusive, porque vêem uma escola desinteressante. Não há conexão entre currículo escolar, estrutura das escolas e anseios dos jovens”, pontua a professora.
Segundo avalia, os alunos param de estudar ou são reprovados continuamente porque a escola não lhes dá condições e possibilidades de conquistas e realizações.
Santa Rosa frisa que a pandemia agravou a situação e, sem políticas inclusivas eficientes, voltadas para a inclusão digital, os estudantes não podiam ir à escola e nem tinham condições de se manterem conectados a ela. “Daí eles abandonaram a escola. Aqui no RN não vimos nada acontecer, nem mesmo uma campanha educativa, com linguagem voltada para atrair os jovens de volta e mantê-los na escola, nenhum material voltado para esse jovem recompor aprendizagens que não aconteceram durante os anos de pandemia”, diz ela.
Sem medidas enérgicas que mudem essa realidade, o cenário é ainda mais preocupante para o futuro, interferindo, inclusive na qualidade dos futuros profissionais. “O desenvolvimento do país, as desigualdades sociais vão ganhando escalas maiores. São necessárias políticas públicas de inclusão dos jovens, inclusive os que precisam trabalhar, para conciliar com a escola; para os que são atraídos pela criminalidade; os que engravidam; enfim, uma série de problemas que precisam ser combatidos na origem para que se vislumbre um novo cenário”, aponta a especialista.
Mercado de trabalho compete com escolas
O professor Alexandre Queiroz, presidente da Comissão Própria de Avaliação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, acredita que a dificuldade dos adolescentes acompanharem a série na idade certa se deve principalmente às questões financeiras. É nessa idade que a pressão para que ajudem na renda familiar aumenta. Por isso, maior parte dos estudantes fora de faixa devem estar na rede pública.
“Se considerar que maior parte da população é pobre, a maior parte desses estudantes deve ser da escola pública. É uma situação histórica. Passa a ideia, a princípio, de que é um problema de qualidade do ensino, mas tem mais a ver com a questão da pobreza e também do sentimento do estudante que nessa faixa sente a pressão de precisar trabalhar, no caso especialmente dos estudantes da rede pública”, diz o professor.
Para o aluno que tem uma necessidade de trabalhar, a escola passa a ser algo secundário. Esse é o sentimento de João Gabriel. Aos 18 anos, ele está cursando o 2º ano do Ensino Médio. “Como já sou maior de idade, sinto que já deveria estar trabalhando, ao invés de só estudar. Apesar de saber que os estudos são importantes, no meu caso, o trabalho seria melhor”, afirma.
O jovem foi reprovado no 7º ano do ensino fundamental e no 1º ano do Ensino Médio durante a pandemia, quando as aulas presenciais estavam suspensas. “Sem a cobrança presencial, também faltava o estímulo para fazer as atividades e aí acabei ficando sem nota, sem atingir a média necessária e reprovei de novo”, conta o estudante, cuja expectativa é apenas concluir o nível médio, sem priorizar o aprendizado. “Acabo estudando apenas para passar de ano. Sei que isso vai interferir no futuro, mas vou focar em concurso público e aí revejo tudo desde o primeiro ano”, planeja João Gabriel.
Na UFRN, uma pesquisa que o professor Alexandre integra sobre assistência estudantil aponta que, se não fossem medidas como restaurante universitário e bolsas de apoio técnico, boa parte dos estudantes não teriam como se manter na universidade e abandonariam os cursos.
A partir daí, o professor avalia que oferecer maior assistência aos alunos ajudaria a mudar o quadro daqueles que estão fora de faixa. “A solução ideal seria acabar com a desigualdade. Não sendo possível, a assistência estudantil seria um paliativo, garantindo refeição, associando com formação profissionalizante. Estudar tendo alguma renda garantida faz toda a diferença”, sugere o professor Alexandre Queiroz.
Santa Rosa frisa que a pandemia agravou a situação e, sem políticas inclusivas eficientes, voltadas para a inclusão digital, os estudantes não podiam ir à escola e nem tinham condições de se manterem conectados a ela. “Daí eles abandonaram a escola. Aqui no RN não vimos nada acontecer, nem mesmo uma campanha educativa, com linguagem voltada para atrair os jovens de volta e mantê-los na escola, nenhum material voltado para esse jovem recompor aprendizagens que não aconteceram durante os anos de pandemia”, diz ela.
Sem medidas enérgicas que mudem essa realidade, o cenário é ainda mais preocupante para o futuro, interferindo, inclusive na qualidade dos futuros profissionais. “O desenvolvimento do país, as desigualdades sociais vão ganhando escalas maiores. São necessárias políticas públicas de inclusão dos jovens, inclusive os que precisam trabalhar, para conciliar com a escola; para os que são atraídos pela criminalidade; os que engravidam; enfim, uma série de problemas que precisam ser combatidos na origem para que se vislumbre um novo cenário”, aponta a especialista.
Mercado de trabalho compete com escolas
O professor Alexandre Queiroz, presidente da Comissão Própria de Avaliação da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, acredita que a dificuldade dos adolescentes acompanharem a série na idade certa se deve principalmente às questões financeiras. É nessa idade que a pressão para que ajudem na renda familiar aumenta. Por isso, maior parte dos estudantes fora de faixa devem estar na rede pública.
“Se considerar que maior parte da população é pobre, a maior parte desses estudantes deve ser da escola pública. É uma situação histórica. Passa a ideia, a princípio, de que é um problema de qualidade do ensino, mas tem mais a ver com a questão da pobreza e também do sentimento do estudante que nessa faixa sente a pressão de precisar trabalhar, no caso especialmente dos estudantes da rede pública”, diz o professor.
Para o aluno que tem uma necessidade de trabalhar, a escola passa a ser algo secundário. Esse é o sentimento de João Gabriel. Aos 18 anos, ele está cursando o 2º ano do Ensino Médio. “Como já sou maior de idade, sinto que já deveria estar trabalhando, ao invés de só estudar. Apesar de saber que os estudos são importantes, no meu caso, o trabalho seria melhor”, afirma.
O jovem foi reprovado no 7º ano do ensino fundamental e no 1º ano do Ensino Médio durante a pandemia, quando as aulas presenciais estavam suspensas. “Sem a cobrança presencial, também faltava o estímulo para fazer as atividades e aí acabei ficando sem nota, sem atingir a média necessária e reprovei de novo”, conta o estudante, cuja expectativa é apenas concluir o nível médio, sem priorizar o aprendizado. “Acabo estudando apenas para passar de ano. Sei que isso vai interferir no futuro, mas vou focar em concurso público e aí revejo tudo desde o primeiro ano”, planeja João Gabriel.
Na UFRN, uma pesquisa que o professor Alexandre integra sobre assistência estudantil aponta que, se não fossem medidas como restaurante universitário e bolsas de apoio técnico, boa parte dos estudantes não teriam como se manter na universidade e abandonariam os cursos.
A partir daí, o professor avalia que oferecer maior assistência aos alunos ajudaria a mudar o quadro daqueles que estão fora de faixa. “A solução ideal seria acabar com a desigualdade. Não sendo possível, a assistência estudantil seria um paliativo, garantindo refeição, associando com formação profissionalizante. Estudar tendo alguma renda garantida faz toda a diferença”, sugere o professor Alexandre Queiroz.
*Fonte: Tribuna do Norte