O novo livro de Manoel Neto é um desdobramento do anterior, “1500 – De Portugal ao Saliente Potiguar”, lançado em 2018. “Meu primeiro livro ainda era muito calcado no material de Lenine, mas no segundo eu faço novas observações, levando em conta estudos que incluem física e matemática, um ponto de análise mais científico sobre algumas informações que já estavam na carta de Pero Vaz de Caminha”, ressalta ele, que é engenheiro civil de formação.
A obra deseja reforçar as evidências de que a praia do Marco, no município de Touros, foi a porta oficial de entrada no Brasil para a colonização portuguesa, um ano antes da fixação do monumento no local (em 1501). “O Marco de Touros é o monumento colonial mais antigo das Américas pós Colombo, e isso é indiscutível”, enfatiza o pesquisador.
A fonte primordial de Manoel Neto é a carta de Caminha, que ainda é o único documento português autenticado e certificado sobre o descobrimento. “Fui pelo caminho de estudar melhor os dados científicos que a carta traz, como distância, profundidade, sentidos de navegação e a ação dos ventos, elementos que precisavam de novas interpretações”, diz.
O autor fez uma segunda visita a Portugal em 2019, consultou mais trabalhos acadêmicos, livros, autores brasileiros e estrangeiros – e incluiu dois trabalhos de física que foram fundamentais para renovar a tese. Esse estudo tem relação com a chamada Força de Coriolis, uma “força inercial” perpendicular à velocidade e também ao eixo de rotação do sistema não inercial em relação ao inercial.
Serra Verde
Segundo Manoel Neto, as embarcações de Cabral através de ventos, correntes e ondas, sob as forças de Coriolis, foram levadas até as futuras terras potiguares. Um dos fatos apontados por Lenine Pinto é de que o “monte Pascoal” visto pelos portugueses seria na verdade o Pico do Cabugi. Manoel Neto tem outra tese: “Segundo meus cálculos, o tal ‘monte alto e redondo’ seria a Serra Verde, no que hoje é a atual João Câmara, que fica a menos de 90 km do ponto de avistamento inicial”, afirma.
Para além da carta de Caminha, Manoel Neto também procurou autores que também viveram no período (século 16) e deram pequenas pistas sobre sobre o acontecimento, como o cosmógrafo Duarte Pacheco Pereira, Damião de Góis, e Pero Lopes Castanheda. Elas se unem às análises de correntes marítimas e descrições topográficas que validam a visão do pesquisador sobre o assunto.
Manoel Neto tem consciência que a tese defendida por ele e Lenine é, para muitos, polêmica. Um estudo que contradiz o oficial, estabelecido há séculos, não seria aceito com tanta facilidade. Mas não o impede de ser considerado e avaliado. “Eu sei que será uma tese sempre questionada, mas o próprio Rio Grande do Norte poderia levá-la mais a sério até para benefício próprio”, afirma.
Segundo o escritor e poeta Diógenes da Cunha Lima, que fez a apresentação de “Brasil 1500”, a nova tese de descobrimento poderia gerar uma nova possibilidade de projetar o turismo histórico-cultural potiguar. “Além da discussão em torno de um tema importante, amplia a divulgação do nosso Estado na mídia para além do sol e mar”, escreveu.
Serviço:
Livro “Brasil 1500 – A Verdade”, de Manoel de Oliveira Neto. Pode ser encontrado no Sebo Lisboa (Mercado de Petrópolis) e no site Estante Virtual.
*Tribuna do Norte
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