Os ovinos da raça Morada Nova da variedade branca são uma espécie nativa do semiárido que corre risco de extinção. Na Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa), em Mossoró, pesquisadores estão trabalhando para manter a espécie e, mais do que isso, fortalecer a raça e mostrar a importância dela para a região. O trabalho de conservação passa também pelo melhoramento genético. A professora Débora Façanha é uma das pesquisadoras à frente dos estudos que já começam a apresentar resultados. Em 2018, as pesquisas tiveram início com seis animais. Agora em 2021, já são 23 ovinos.
"O que nós podemos fazer e esse é o principal objetivo do nosso trabalho é buscar formas de uso sustentável desses genótipos nativos de forma que possamos associar a adaptação com o bom desempenho. Entenda-se bom desempenho como um desempenho compatível com os sistemas de criação que devem ser predominantes aqui no semiárido", destaca Débora Façanha, pesquisadora da Ufersa.
O trabalho conta com a parceria de outras instituições, como uma universidade do Ceará, Embrapa, além de rebanhos privados e da associação de criadores da raça morada nova. Ao todo, oito rebanhos fazem parte do projeto de conservação e monitoramento da raça. Atualmente, seis animais estão registrados e fazem parte do livro de registro genealógico homologado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, o que é considerado um avanço nas pesquisas.
A professora explica que, após a recuperação genética da raça, o passo seguinte é a agregação de valor. "Quando se tem animais registrados, eles passam a fazer parte do livro de registro genealógico homologado pelo ministério da agricultura. Com isso, o valor dele e os seus descendentes passa a aumentar. Isso será extensivo aos criadores que adorarem essas raças".
Um levantamento feito por uma pesquisa realizada na Ufersa, em 2019, identificou a presença de apenas oito rebanhos da raça Morada Nova, da variedade branca. A quantidade não ultrapassava mil animais.
De acordo com Débora Façanha, criou-se uma crença de que essas raças são pouco produtivas, têm menor porte e um desempenho menor. Segundo ela, essas raças têm grande facilidade de adaptação, sobretudo na região Oeste do Rio Grande do Norte, que tem alta radiação e pouca chuva.
Um aspecto importante para manutenção da espécie é o cuidado com o rebanho. Na unidade de pesquisa instalada na Ufersa, os animais passam por um manejo sanitário rigoroso. O método Famacha é um dos mais simples e eficazes para verificar a presença de parasitas nos animais. Ele consiste em analisar a coloração da mucosa do olho dos animais.
"A cada 60 dias os animais passam por exames para saber como está a situação dos animais com relação a parasitas. O Famacha está em um grau bom. A gente percebe a melhora do rebanho, estão em um 'score' bom. Os resultados são esses: a gente vê os animais bonitos mesmo nessa época", explica Lucas dos Santos, estudante de Medicina Veterinária que participa do projeto.Todos os dados coletados durante a pesquisa são armazenados no laboratório de genética e melhoramento animal. A equipe do professor Ernandes Rufino é responsável pelo controle dos dados. Com as informações, é possível identificar os animais com o objetivo de criar uma espécie de histórico do rebanho.
"Nós vamos construindo uma base de dados consistente que vem pro nosso laboratório. Esses dados são tabulados para que a gente consiga utilizar softwares específicos para identificar o parentesco, se existe uma taxa de endogamia e quais serão os possíveis melhores reprodutores a serem acasalados. Controle de parentesco, controle de desempenho, direcionamento dos acasalamentos para evitar que parentes se acasalem e direciona os acasalamentos de animais com melhores desempenhos" , esclarece o professor.
Ele explica que os estudos devem ajudar também os criadores. Uma possibilidade de voltar a inserir os animais da raça Morada Nova da variação branca no semiárido nordestino.
"É interessante que a gente leve isso pro produtor, por ser uma raça que se adapta muito bem à região. A partir do momento que a gente consegue mostrar e provar em nosso núcleo que se a gente fizer o mínimo de controle e seleção, eles vão apresentar um desempenho espetacular de maneira que a gente pode utilizar esses animais como uma alternativa muito importante de substituição ou até de cooperação com as raças exóticas que nós temos", reforça Ernandes.
Allan Raulino, produtor do município de Francisco Dantas, no Alto Oeste potiguar, participa do projeto e só tem visto vantagens na criação de ovinos da raça Morada Nova. "É uma raça de habilidade materna muito excepcional, é uma raça que come qualquer coisa e fica gorda, é uma raça que com pouca alimentação consegue se manter tranquilamente e ela tem ótimos resultados", afirma.
*Do G1 RN
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