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02 abril 2021

CENTRO HISTÓRICO CULTURAL TAPUIAS PAIACUS DA LAGOA DO APODI EMITE NOTA DE REPÚDIO À FALA DE VEREADOR

A Presidenta do Centro Histórico Cultural Tapuias Paiacus da Lagoa do Apodi, Lúcia Paiacu Tabajara emitiu nota de repúdio. Confira a nota:

*NOTA DE REPÚDIO* - Centro Histórico Cultural Tapuias Paiacus da Lagoa do Apodi 

Em repúdio a fala do vereador Charton Rego (MDB), na última sessão plenária da Câmara Municipal de Apodi, no dia 01/04/2021. 

Em sessão remota, no uso da sua palavra, o vereador acusou os povos indígenas que tomaram a vacina de "aproveitadores". Dentre as mais diferentes ofensas e acusações, ainda disse que nós, povos indígenas, estamos tirando a oportunidade de "quem realmente precisa da vacina". Em sua fala, o vereador deixou explícito que desconhece as origens do seu município, como também corrobora de maneira direta para a propagação de um discurso vazio e repleto de preconceitos.

Quanto ao trecho onde afirma que "tem índio aqui que não sabe nem fazer a dança da chuva", gostaria de afirmar que é bem triste tamanho espetáculo de preconceito e ignorância por parte de um parlamentar que deveria possuir noções históricas e culturais sobre a população indígena. Essa visão dos índios como seres distantes da civilização e sem nenhum tipo de acesso a cultura contemporânea é de uma completa irresponsabilidade e também ignorância, pois o acesso a cidade é garantido por lei a todos os cidadãos. A cultura indígena é muito rica e plural nos seus mais diferentes saberes e rituais, e é muito importante que todos os brasileiros possam conhecer e ter acesso a essa cultura, pois é justamente das nossas raízes que esse país nasceu. Não aceitaremos nenhum tipo de preconceito disfarçado de opinião.

Apodi é território indígena. O Rio Grande do Norte possui 16 comunidades dos povos indígenas; Potiguara, Tapuia Paiacu, Tarairiú, Janduís e Caboclos, segundo levantamento da Articulação dos Povos Indígenas do Rio Grande do Norte (APIRN), porém nenhuma dessas comunidades tem seus territórios demarcados e reconhecidos pela União, e por isso esses povos, num primeiro momento, foram excluídos do processo de vacinação contra a COVID-19, pois segundo o plano divulgado pelo governo federal, somente os “índios aldeados” seriam vacinados. O que é vergonhoso mesmo, Vereador, foi esse termo colocado pelo ex-ministro da Saúde, “índios aldeados”, pois remete a ditadura civil-militar de 64, uma mancha da nossa história recente. 

Esse plano do Ministério da Saúde excluiu completamente aqueles que vivem em áreas urbanas, o que representa, segundo dados do Censo IBGE de 2010, cerca de 46% da população indígena no Brasil. É importante que seja dito que graças a atuação e luta dos movimentos indigenistas e ao Governo do Estado do Rio Grande do Norte que cobrou e pressionou ao Ministério da Saúde para que as doses da vacina chegassem até os povos indígenas do RN. Os índios que estão nos centros urbanos têm como um dos motivos para estarem nestes espaços a expulsão dos seus territórios por invasores, logo, é um ato de extrema violência, o que não justificou em primeiro momento a sua exclusão desse plano de vacinação.

O fato do indígena estar fora da aldeia e viver na cidade não faz com que ele deixe de ser indígena, vereador. Tenha mais respeito com a comunidade indígena do RN e do Brasil. 

Lucia Paiacu Tabajara - Presidenta do Centro Histórico Cultural Tapuias Paiacus da Lagoa do Apodi.

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