Pelo segundo ano consecutivo, o Banco Central não cumprirá sua meta de controle da inflação. Após ver o IPCA, o índice oficial de preços, superar os 10% em 2021, bem acima do objetivo de 3,75%, o órgão enfrenta neste ano a perspectiva de uma inflação superior a 6%, para uma meta de 3,5%. Economistas ouvidos pelo UOL foram unânimes: 2022 está perdido para o controle da inflação.
A preocupação agora é se o BC conseguirá enfim segurar a inflação em 2023, em meio às pressões de preços trazidas por combustíveis, commodities e pelas consequências das ações do governo Bolsonaro neste ano eleitoral.
Juros são usados para reduzir inflação
Pelo sistema atual, o BC precisa atingir uma meta específica de inflação todo ano. Para isso, ele utiliza a Selic, a taxa básica de juros da economia, atualmente em 11,75% ao ano.
Ao elevar a Selic, o órgão também torna mais caras as operações de crédito para empresas e consumidores, o que contribui para desaquecer a economia. O resultado, em tese, é uma inflação menor.
O problema é que, em meio à pandemia de covid-19, o BC tem tido dificuldades para controlar a inflação, mesmo com uma Selic mais elevada.
Abaixo estão as metas dos últimos anos e os intervalos de tolerância (quando se considera que o BC cumpriu o objetivo). Além disso, aparecem a inflação medida de fato e as projeções do mercado financeiro. Estão destacados os percentuais de quando o BC não cumpriu a meta (ficou fora do intervalo de tolerância) e a projeção para 2022, que indica perspectiva de novo descumprimento.
Metas de inflação, resultados e projeções no ano:
•2017: 4,5% (meta); 3% a 6% (intervalo de tolerância); 2,95% (inflação medida)
•2018: 4,5% (meta); 3% a 6% (intervalo de tolerância); 3,75% (inflação medida)
•2019: 4,25% (meta); 2,75% a 5,75% (intervalo de tolerância); 4,31% (inflação medida)
•2020: 4% (meta); 2,5% a 5,5% (intervalo de tolerância); 4,52% (inflação medida)
•2021: 3,75% (meta); 2,25% a 5,25% (intervalo de tolerância); 10,06% (inflação medida)
•2022: 3,5% (meta); 2% a 5% (intervalo de tolerância); 6,59% (inflação projetada)
•2023: 3,25% (meta); 1,75% a 4,75% (intervalo de tolerância); 3,75% (inflação projetada)
Para controlar inflação, ano já está perdido
Embora o primeiro trimestre de 2022 nem tenha se encerrado, os economistas apontam que já não é possível, para o BC, segurar a inflação. A escalada dos preços, que se intensificou no ano passado, vai continuar neste ano, ainda que numa intensidade menor.
A guerra entre Rússia e Ucrânia, que fez os preços dos combustíveis dispararem, tornou a tarefa de controlar a inflação ainda mais difícil.
Para o economista Alexandre Schwartsman, sócio da consultoria Schwartsman & Associados, o desafio agora é segurar os preços em 2023.
O controle da inflação está perdido desde o começo do ano. Agora, ainda mais. Desde o começo de 2022, se imagina uma inflação alta. Para o próprio BC, o controle neste ano já está praticamente fora do horizonte. Ele não briga mais pela inflação de 2022. O BC está brigando por 2023.
Alexandre Schwartsman, economista
O economista Mailson da Nóbrega, que foi ministro da Fazenda entre 1988 e 1990, concorda que o trabalho atual do BC é evitar que a inflação fique acima da meta de 2023.
O BC perdeu a meta de inflação de 2022. Não há mais como atingi-la, a menos que ele promova uma contração econômica gigantesca, o que seria irresponsável. O trabalho do BC hoje está focado em evitar a perda da meta de 2023. Isto é, prevenir a contaminação, no próximo ano, do processo inflacionário de 2022.
Mailson da Nóbrega, economista
O que deu errado?
Os economistas ouvidos pelo UOL afirmam que uma série de choques inflacionários —eventos inesperados, que levam à alta de preços em diferentes setores— dificultaram a atuação do BC nos últimos anos.
*GRUPO CIDADÃO 190
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