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26 maio 2021

Adoção rima com coração

Em maio, o Dia das Mães (sempre no segundo domingo do mês) e o Dia Nacional da Adoção (25 de maio) guardam especial afinidade. O sagrado dom da maternidade, também expresso no belo gesto da adoção, deve compartilhar amor e afeto igualmente de forma inclusiva. 

Esse importante tema foi discutido na Boa Vontade TV (Oi TV — Canal 212 — e Net Brasil/Claro TV — Canais 196 e 696), no programa Sociedade Solidária. Na ocasião, o sociólogo e apresentador Daniel Guimarães entrevistou Mônica Natale de Camargo, do Grupo de Apoio à Adoção de São Paulo (Gaasp). 

Mudança de cultura 

Estimativas apontam que, para cada criança na fila de adoção, há seis casais ou indivíduos pretendentes. Mônica Natale esclarece: “Ainda temos aquela cultura do perfil. O que a maioria dos pretendentes deseja? Eles geralmente querem aquelas crianças menores, bebês, brancos ou da mesma etnia. E as crianças que estão disponíveis geralmente são de grupos de irmãos e com idade avançada, e algumas com necessidades especiais. Então, o que tem de se fazer? Mudar essa cultura em torno da adoção no Brasil. O pretendente tem que entender qual é a realidade do país, e começar a olhar com carinho para as crianças, mudar aquela concepção do filho idealizado para o filho possível”. 

Longe de nós o preconceito 

O alto sentido de humanidade precisa habitar o coração das criaturas, não deixando espaço para preconceitos. Mônica Natale aponta para o que pode ser feito: “Primeiro, uma divulgação maior do que é a adoção, entender o que significa adotar, o que significa um filho na sua vida. Isso é importante! A cultura da adoção tem que ser mudada, sim, com programas de TV como este onde se discute, onde se fala dessas necessidades”. 

O assunto realmente merece um olhar mais atento da parte de todos, seja das políticas públicas ou da sociedade. É direito básico de toda criança ter uma família que a proteja, ame e respeite. 

Quem quiser se informar melhor, além de encontrar informações sobre cursos e eventos, pode encontrar o perfil do Grupo de Apoio à Adoção de São Paulo no Instagram: @Gaasp_Adocao ou mandar um e-mail para gaasp@gaasp.org.br. Procure também conhecer a legislação brasileira sobre o tema. 

Tirem o vidro!

No dia 27 de maio, completam-se 35 anos de dois grandes eventos da Legião da Boa Vontade na capital federal. Na ocasião, além de inaugurar o primeiro anexo (sede administrativa) do Conjunto Ecumênico, comandei a cerimônia de lançamento da Pedra Fundamental do Templo da Boa Vontade.

Momentos antes do início do cerimonial, um fato curioso proporcionou a todos importante lição. Eu me encontrava no segundo andar do prédio administrativo da LBV com os meus filhos e, ao olhar para o pátio, que estava superlotado, vi que o palco era baixo demais. E decidi: Sabem de uma coisa? Vou falar aqui de cima da marquise de entrada. E perguntei: Essa marquise aguenta o peso da gente? Ao que me responderam que sim, ao mesmo tempo em que me perguntavam: “Mas como é que o senhor vai passar para lá? Tem um vidro na frente!” Ora, se o vidro atrapalha, tirem o vidro!, disse-lhes. O vidro foi retirado e pude, então, fazer o discurso lá de cima mesmo. 

Naquele momento, destaquei, lembrando-me de Moisés e de Alziro Zarur (1914-1979), que o Templo do Ecumenismo Divino, o Templo da Paz, surgia para que houvesse a interiorização de bons e elevados valores. Porque não se pode exteriorizar coisa alguma de útil se a criatura não tem nada para oferecer. É a questão do conteúdo espiritual que precisamos nutrir para que ele frutifique em nosso íntimo, de maneira que possamos externar a todos à nossa volta. 

Ante aos embates que surjam em sua vida, jamais desista do Bem! Confie em Jesus e… tire o vidro!

José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor. 

16 outubro 2020

RN tem 54 crianças e adolescentes aguardando adoção; outras 18 estão em processo de adoção

Foto: Guia dos Pais
Cinquenta e quatro crianças e adolescentes aguardam por uma nova família no Rio Grande do Norte. Outras 18 estão em processo de adoção. As informações constam do Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA), do Conselho Nacional de Justiça. 

Desde 2019, quando o novo sistema foi lançado pelo CNJ, foram registradas 45 adoções no RN, sendo 27 no ano passado e 18 em 2020.

Perfil etário
Entre os 45 adotados, 23 tinham idade até 3 anos; 10 contavam com idade de 3 a 6 anos; oito tinham de 6 a 9 anos; e três tinham de 9 a 12 anos. Apenas um adotado era maior de 15 anos. 

Esse perfil se reflete na fila da adoção, a qual mostra que quanto maior a idade, maior a dificuldade de se conseguir uma nova família. Da atual fila de 54 crianças e adolescentes, 15 são maiores de 15 anos (28%) e oito têm de 12 a 15 anos (15%). 

Dos 18 que estão em processo de adoção, todos têm até 12 anos de idade: até 3 anos são oito; de 3 a 6 anos são dois; de 6 a 9 anos são quatro e de 9 a 12 anos são quatro. 

Por outro lado, quando se analisa o perfil dos 449 pretendentes à adoção cadastrados no Rio Grande do Norte, 66% só querem adotar crianças de até 4 anos de idade. São 134 candidatos que só aceitam crianças até 2 anos e 164 que aceitam crianças até 4 anos. No outro extremo, só cinco (1,1%) adotariam um adolescente de até 14 anos; um candidato (0,2%) aceita adotar um adolescente de até 16 anos e outras três pessoas (0,6%) aceitam adotar alguém com mais de 16 anos.

31 maio 2020

APÓS OCORRÊNCIA DE HOMICÍDIO NO RN, POLICIAL CIVIL ADOTA CINCO FILHOS DA VÍTIMA

Em 2018, a agente Flaviana Bezerra, da Divisão de Homicídios foi chamada após assassinato de um homem em Parnamirim. Ela acabou adotando duas crianças e três adolescentes, que presenciaram o crime.
Flaviana Bezerra tem 44 anos e trabalha na DHPP da Polícia Civil — Foto: Cedida
5 de agosto de 2018. O que parecia ser mais um dia comum de plantão na Divisão de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) em Natal acabou se tornando um divisor de águas na vida da policial civil Flaviana Bezerra. Foi neste dia, durante as primeiras investigações de um crime, que, mesmo sem saber, ela começava a adotar seus cinco filhos.
Flaviana lembra com clareza daquele 5 de agosto de 2018. Era domingo e a agente acabara de voltar das férias para o trabalho. "Esse foi um dia muito difícil porque meu pai teve uma suspeita de infarto e por causa disso meu irmão também passou mal. Meus colegas queriam que eu não fosse trabalhar para ficar com ele, mas meu pai melhorou e eu fui para o plantão", conta.
Às 22h, Flaviana e uma equipe da DHPP foram acionadas para uma ocorrência em Parnamirim, na Região Metropolitana de Natal. Um homem havia sido assassinado a tiros na frente do neto e de cinco filhos. Eram três crianças, dois adolescentes e um bebê de 11 meses.
"Quando estávamos na cena do crime apareceu uma mulher dizendo que seis crianças estavam chorando por causa do pai numa casa próxima. Fui até eles com minha equipe e eles estavam com medo, diziam que a gente era do Conselho Tutelar e que iria separá-los", conta. As crianças e adolescentes que viram o pai ser assassinado também perderam a mãe, três anos antes, em 2015. Ela morreu durante uma cirurgia.
Nesse momento, Flaviana começava a se tornar mãe, algo que nunca planejou. Ainda na noite do crime, em agosto de 2018, a policial foi até a casa onde as crianças moravam e se impressionou com o que viu. "Tinha muito lixo na casa e não tinha um grão de comida. Eles trabalhavam catando lixo na rua e estavam passando fome", conta.
Comovidos com a situação, os policiais da DHPP levaram as crianças para a casa de uma tia, que não as recebeu muito bem, segundo Flaviana. "Eles também não poderiam ficar lá porque a tia não tinha condições e por outros motivos. Também não podiam ficar na casa onde moravam porque o assassino do pai poderia morar na região", explica.
Dos seis, cinco são irmãos. O mais novo do grupo tinha 11 meses e era filho da mais velha, que tinha 15 à época. Eles permaneceram na casa da tia por algumas semanas. Flaviana escreveu um texto pedindo doações e divulgou no grupo interno de WhatsApp da Polícia Civil. Com o dinheiro arrecado, a agente comprou alimentos e deixou na casa da tia das crianças.
No entanto, o texto que Flaviana havia compartilhado entre os colegas de profissão vazou do grupo da corporação e as doações aumentaram consideravelmente. O recurso arrecadado daria para pagar o aluguel de uma casa para os seis durante um ano. Flaviana consultou um promotor para tratar juridicamente da possibilidade.
"Eu fiquei com medo quando vi o dinheiro porque ele estava na minha conta pessoal. Por isso consultei o promotor para abrir uma conta para eles, mas ninguém era responsável por eles. Com tudo ok, aluguei a casa para eles e fiz umas compras. Isso tudo com meus amigos da DHPP. Também pedi ajuda do Estado para matricular eles na escola. Uma parente deles veio para morar com eles na casa alugada", diz a policial civil.

Flaviana formou uma família após ocorrência policial — Foto: Cedida

Adoção
A essa altura, a policial civil conta que já estava bem envolvida com as crianças e adolescentes, que conheceu em uma cena de crime. "O vínculo afetivo já era muito forte. Eles eram muito inocentes, no dia que o pai morreu eles disseram que antes estavam muito felizes porque tinham comido pizza pela primeira vez. Tinham uma admiração enorme pelo pai, gostavam muito dele", lembra.
A história começa a mudar quando a tia responsável por morar com o grupo na casa alugada resolve sair da cidade. Os meninos e meninas não poderiam ficar sozinhos e seriam levados para um orfanato do estado. "Fiquei preocupada com isso, os mais novos poderiam ser adotados, mas os mais velhos ficariam numa instituição até completar 18 anos. E depois?", relembra Flaviana.
É neste momento em que a policial decide fazer a adoção. "Não é uma escolha fácil. Não é como um cachorrinho que você pega para criar. Eu nunca tive esse sonho tradicional de casar e ter filhos, mas aconteceu e acredito que não foi por acaso. No começo foi mais difícil ainda, mas hoje as crianças são muito minhas e eu sou muito delas. Eles são apaixonados pela minha família e minha família por eles. Foi a adoção familiar completa", diz.
"Você precisa repensar toda uma vida e fazer renúncias. Baladas, distrações, viagens, a gente repensa tudo isso. Mas no fim das contas, isso é mais importante que as crianças? Quando boto no balança fica tão desproporcional. As crianças são muito mais importantes que tudo isso"
Flaviana, que tem 44 anos, oficializou o pedido pela guarda dos filhos em agosto do ano passado. Em novembro saiu a confirmação. Ela conseguiu a guarda de cinco: dois meninos de 2 e 11 anos; e três garotas de 8, 13 e 16 anos de idade. A mais velha do grupo de seis, que atualmente está prestes a fazer 18 anos decidiu morar só.

Flaviana vive em um apartamento com os cinco filhos — Foto: Inter TV Cabugi/Reprodução

 Isolamento
Vivendo com os cinco filhos em casa, a policial segue trabalhando durante a pandemia do novo coronavírus. Para evitar o contágio pela Covid-19, ela está há quase dois meses mantendo o distanciamento social dos filhos.
"Já fiz um teste que deu negativo, mas o medo é grande de me contaminar e trazer o vírus para dentro de casa. É uma angústia muito grande. Como policial civil não posso parar, mas esperamos que essa pandemia passe o mais rápido possível. Alguns colegas meus já se infectaram e as crianças morrem de medo. Em casa a gente se protege como dá", conta.
Morando em um apartamento em Lagoa Nova, na Zona Sul de Natal, a agente diz tomar todos os cuidados de prevenção ao voltar para casa e garante que apesar do distanciamento social se aproximou afetivamente dos filhos. A entrevista para esta reportagem, por exemplo, foi interrompida diversas vezes pelos gritos de "mãe" dos filhos.
"Vivemos assim felizes, mesmo com todo o estresse da profissão. Não vejo a hora dessa pandemia passar para poder abraçá-los sem medo. Eles adoram o avô e estão tristes porque não podem encontrar ele nesse momento, mas a gente senta e explica. Acho que isso é ser mãe", conta.
Flaviana Bezerra destaca ainda a importância dos colegas da Polícia Civil durante todo o processo. "A ajuda dos amigos da DHPP foi fundamental, não fiz nada sozinha. Tenho certeza que meus filhos ganharam diversos pais porque meus colegas estão sempre em contato com as crianças", lembra a agente.

Flaviana com três de seus cinco filhos — Foto: Inter TV Cabugi/Reprodução

*Do G1-RN/Passando na Hora