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21 outubro 2022

Álvaro Dias reúne empresários para discutir como pressionar trabalhadores a votar em Bolsonaro burlando a lei

O prefeito de Natal, Álvaro Dias (PSDB), organizou um encontro fechado com empresários na tarde desta quinta-feira (20), no horário de expediente, em um hotel da zona Sul de Natal. Em pauta, o apoio à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) e estratégias de como aumentar os votos do presidente na capital potiguar. Em diversas falas, os empresários sugeriram modos de tentar convencer seus funcionários a votar no candidato, apesar dos riscos de exposição na mídia e de serem acusados de assédio eleitoral, como relataram.

Entre os participantes, também estavam integrantes do primeiro escalão do governo Álvaro Dias, como o secretário de turismo Fernando Fernandes, o vereador Kleber Fernandes (PSDB) e o Coronel Hélio Oliveira. Na plateia, dentre outros, o secretário de infraestrutura, Carlson Gomes. Álvaro Dias só deixou o local após às 17h alegando compromisso em Caicó.


A Agência SAIBA MAIS conseguiu entrar no evento, divulgado apenas entre empresários e militantes bolsonaristas, e gravou as falas. Parte do conteúdo está divulgado nesta reportagem. Durante o encontro, empresários deram dicas de como enganar o Ministério Público do Trabalho e até debocharam da impunidade caso fossem flagrados e presos.

Lula venceu no Rio Grande do Norte com 62,98% dos votos. Jair Bolsonaro ficou em 2º lugar, com 31,02%. Em Natal, a diferença foi menor. O ex-presidente Lula venceu com 50,15% dos votos e Jair Bolsonaro obteve 42,01%.

Na reunião, o prefeito de Natal preferiu focar sua fala na própria gestão, listando os benefícios trazidos pelo novo Plano Diretor, as ajudas do Governo Federal à cidade e o seu apoio ao senador eleito Rogério Marinho (PL), que não participou do evento.

“Eu disse aqui em Natal, nas reuniões com secretários, com cargos de confiança, nas reuniões nos bairros, nos comícios onde eu fui, eu disse: ‘olha, o candidato não é Rogério Marinho. O candidato a senador aqui em Natal sou eu. Vocês vão votar não em Rogério, vão votar no prefeito da cidade. Vocês me ajudem, porque Álvaro Dias no Senado Federal, Natal tem muito a lucrar com isso, a avançar, caminhar em direção ao futuro’”, apontou o prefeito.
“Realmente esse discurso funcionou, porque a maioria que era de 160 mil votos, terminou em minguados 2 ou 3 mil votos, quase empatada para Rogério Marinho aqui em Natal”, disse, sobre o resultado das urnas contra o ex-aliado Carlos Eduardo (PDT). Na capital, o pedetista teve 163.778 votos, contra 160.575 do bolsonarista Rogério.

Após isso, o prefeito saiu para uma reunião em Caicó com lideranças do Seridó. O que seguiu foram discursos com ataques à imprensa, comparações de que a esquerda “persegue” bolsonaristas como os nazistas faziam com os judeus e, principalmente, estratégias para convencer os funcionários a voltarem em Bolsonaro e despistar a fiscalização do Ministério Público do Trabalho, que poderia apontar assédio eleitoral contra empregados.

Matheus Feitosa, presidente da Associação dos Empresários do Bairro do Alecrim (AEBA), disse que ver gente votando em Lula (PT) é um “absurdo”, e temeu possíveis “retaliações da mídia” caso fossem flagrados convencendo os funcionários a votar em Bolsonaro. Se referindo a uma medida do Governo do RN para cadastrar imóveis privados e públicos que não cumpram função social, novamente classificou como “absurdo”.

“A gente tem que compartilhar essas informações com nossos colaboradores, com nossos funcionários da nossa residência, com quem for. Nossos familiares que ainda estão indecisos ou que dizem que vão votar em Lula. Isso é um absurdo que a gente não pode aceitar que aconteça na próxima gestão. Então a gente tem que unir forças, como o prefeito disse aqui, os secretários, coronel Hélio. Muitas vezes a gente já deu voltas no bairro do Alecrim, com General Girão também, para convencer os empresários a conversarem com suas equipes”, apontou.

“A gente sabe que tem muito medo também de sofrer retaliações na mídia, de ter uma foto, um vídeo gravado por aquele colaborador que é do outro lado, que é petista, mas a gente tem que ver uma forma de conversar com essas pessoas, de tentar convencê-los, de sempre pegar matérias interessantes, de credibilidade, que a gente possa compartilhar nos nossos grupos de WhatsApp. Ou pegar aquela matéria de um recorte do jornal e botar ali no mural da empresa para que aquelas pessoas sintam o impacto dessa realidade na empresa, no seu emprego, na sua realidade de amanhã de colocar a comida na mesa”, disse Matheus Feitosa, presidente da Associação dos Empresários do Bairro do Alecrim (AEBA).

Já o advogado Gladstone Heronildes, que se disse atuante na “área empresarial do turismo” e “representante” de um hotel localizado no bairro de Ponta Negra, culpou os sindicatos por possíveis retaliações sofridas pelos empregadores.

“Nós não podemos chegar dentro da empresa, porque os sindicatos são também petistas, socialistas e comunistas. Como também às vezes até o Ministério Público do Trabalho, e nós corremos o risco de por mero esclarecimento sofrer sanção dentro da empresa, se a gente convencer ou ousar esclarecer”.

Outro empresário, que afirmou ser de uma empresa da zona Norte e foi identificado apenas como Jorge, falou sobre um diretor do seu negócio — doador da campanha de Rogério Marinho — que foi exposto como “apoiador de arma”: “ele tá indignado. Ele nunca pegou em arma e nunca incentivou ninguém a falar de arma”. Em seguida, Jorge comentou como levou o assunto à própria empresa.

“Eu me indigno e passei minha indignação para todos os meus colaboradores, 400 colaboradores. Ontem eu dei seis palestras dentro da minha empresa falando que saiu o nome do meu diretor sobre o negócio que foi feito a distorção das informações.”



“Se for para ser preso, vou preso com alegria”, diz empresário bolsonarista ao debochar da impunidade

O mesmo Jorge elogiou o prefeito Álvaro Dias “porque ele atacou a Covid com o tratamento precoce, e fez uma coisa que ajudou muitas e muitas pessoas”. O empresário se descreveu como um “bolsonarista atuante”. Afirmou ainda que “nesta reta final, eu não tô nem dormindo mais” ao fazer campanha para o presidente. Ele recebeu aplausos dos participantes do encontro.

Jorge também explicou como “facilitar a vida das pessoas” para que elas votem, e sugeriu oferecer transporte.

“Tem que ir atrás de voto. A gente tem que facilitar as vidas das pessoas, para irem e virem. A gente tem que arrumar a condução. A gente tem que arrumar. Tem que convencer, tem que fazer tudo. Ontem um amigo meu disse: ‘rapaz, você vai ser preso’. Eu disse: ‘se for para ser preso brigando pela minha liberdade e do meu filho, eu vou ser preso. Se for pra ser preso eu vou ser preso com alegria, e sei que vai ter gente que vai me soltar, viu Hélio”, disse, ao gracejar o coronel que o ouvia.

Outro participante do encontro, não identificado, recomendou aos empresários que tirassem um período de folga dos negócios para focar em fazer campanha. Ele citou que se mudou temporariamente para São Miguel do Gostoso por 15 dias para pedir voto — “como eu já tinha passado um ano de pandemia lá, foi fácil. Deu até vontade de ficar mais”, explicou.

“Fui na rua, conversei com pobre”, afirma empresário

Na sua viagem para a praia, um destino turístico importante no litoral potiguar, o empresário conversou até com “pobre”.

“Fui na rua, conversei com pobre, fui aos 27 distritos, bati nas portas, conversei com as pessoas.Todo mundo aqui é empresário bem sucedido, todo mundo aqui é comerciante. E nós não chegamos onde chegamos sem saber vender, sem saber argumentar e sem saber conversar”, afirmou.

“Mas o voto que a gente quer tá naquela mulher que foi sua babá, naquela pessoa que você conhece do interior. Porque a informação que a gente tem não chega ao povo do interior. O filho da * do cara que administra no interior entrega um posto e diz que é ele que tá entregando. Faz um posto de saúde e diz que é ele que tá fazendo”, discursou, com um xingamento.

Para Heronildes, os votos pró-Bolsonaro também devem ser buscados entre a população pobre.

“Eu não sei se vai ser cassado pelo TSE, mas às vezes o verbo, o vernáculo, a concatenação das ideias que nós produzimos nas palavras, não entra na cabeça do sujeito mais humilde de uma forma tão clara. É preciso que mostre para eles um vídeo como esse que mostre o povo comendo cachorro na Venezuela. O povo sucumbindo a uma ditadura sem liberdade como nós já estamos começando a vivenciar, e poderá piorar seguramente. Nós precisamos ir para esses setores da sociedade onde há maior carência, onde estão ainda enganados achando que Lula seria o pai para salvá-los da pobreza”.

*Agência Saiba Mais/Blog do Barreto