Ontem pela manhã, bem cedo, acordei com uma dor bem forte, que foi ficando maior até eu gritar (chamando minha companheira para ajudar) que eu iria desmaiar. E desmaiei. Nesse tempo de desmaio entre idas e voltas, tenho quase nenhuma recordação. Quando retornei mesmo, de verdade, estava sangrando na testa, que foi cortada, acredito que pela pancada da cabeça no chão quando desmaiei.
SAMU e amigues acionados, os últimos chegaram primeiro. Na UPA, depois da costura na minha testa, fui encaminhado para o Hospital Tarcísio Maia com uma solicitação de tomografia, e lá chegando, entre idas e vindas, sendo que a cada ida e a cada vinda, eu tinha que repetir toda a história que me aconteceu, tanto para o estudante de medicina como para o médico da vez, num cansaço que a gente fica doido para ir embora, e assim me foi feito, quando os médicos disseram que eu não precisava fazer tomografia mas precisava ir para casa e procurar um neuro para investigar (como? de que jeito? aonde? com que dinheiro?). Isso tudo acontecendo, e na TV do hospital, Fátima Bezerra discursava e comemorava, num programa de notícias, a sua reeleição para o governo do estado. Me botam pra ir embora, me sinto humilhado e nu, por sair do hospital e ninguém ter me dito nada, nem interesse em buscar o que provocou aquilo em mim, ao ponto da minha companheira ter vivenciado experiência tão terrível, me tendo por morto depois do desmaio. Senti aquilo tudo, vou em busca de atendimento e volto "apenas" com a testa costurada, e muito abuso de médicos, que quando indagados sobre qualquer dúvida nossa, ficavam cada vez mais irritados. Um deles, em um corredor, por um celular, discutia asperamente com alguém do outro lado da linha, enquanto eu aguardava ao lado o atendimento do médico furioso. Já fora do hospital, desolado, por não saber o que fazer, aparece um residente que presenciou o atendimento, e para consolar disse que não adiantava ficar ali porque seria gasto de dinheiro público sem necessidade, comigo(eu não acreditava que ouvia aquilo do futuro médico). E assim estou eu. Pensei, de imediato, nas pessoas mais simples, que não têm como rebater qualquer coisa, que se dirige a um médico como uma autoridade, chamando de doutor, como devem ser pisoteadas, pelos médicos no hospital, e ultimamente pela maior parte dos políticos que vão à periferia, "distribuindo bondade e esperança".
Cada vez me sinto mais abandonado pelo estado brasileiro, em todos os níveis. Como trabalhador de cultura do Brasil eu sou mal olhado em nível federal porque não há interesse, já que temos um governo que persegue artista, não à toa a Lei Paulo Gustavo que poderia ser um alento nesse final de ano, para quem não tem a quem pedir socorro, foi adiada pelo presidente; no plano estadual não há perseguição mas também não há sinal nenhum de vida, ou seja, não há nada. O governo do RN espera a Lei Paulo Gustavo, como nós trabalhadore(a)s da cultura estamos também; no municipal, em Mossoró, é bem mais difícil, horrível, porque há uma perseguição para qualquer trabalhador(a) da cultura que faz crítica à gestão, sendo impedido(a) de participar de qualquer ação municipal, com o nome no caderno dos excluídos. E eu não me vejo calado. Temos três esferas para nos amparar e somos maltratados nas três.
E esse abandono se alastra para todos os setores e segmentos. Imagine que hoje a gente vive de apresentar nos bairros, através do que é arrecadado no chapéu, e aí você adoece, e quem faz a apresentação por você? E isso é só uma fatia dos milhões de brasileiros e brasileiras que estão jogado(a)s ao relento, sem qualquer amparo. Daqui a 15 ou 20 anos, quanto(a)s irmã(o)s brasileiros estarão entrando numa idade mais avançada sem garantia nenhuma para sobreviver no restante de seus dias?
A Constituição nos garante saúde, mas quem garante o cumprimento da Constituição?
”...eu talvez seja o cara que você ama odiar
Inimigo do peito
Cá em casa quem morre se torna querido
Tido e havido por justo e inocente
Mas pode ir tirando o cavalo da chuva que eu não vou nessa de morrer
Só para agradar vocês…"
Vou passar uns dias afastado daqui, me recuperando para seguir. Com tudo isso, mesmo assim, acredito que podemos melhorar, mas para isso, só através de um debate profundo sobre nossos problemas, o que não acontecerá nessa estrutura política que nos esmaga, cheia de pensamento velho.
Vou ficar bem e volto em alguns dias!
Até logo!
SAMU e amigues acionados, os últimos chegaram primeiro. Na UPA, depois da costura na minha testa, fui encaminhado para o Hospital Tarcísio Maia com uma solicitação de tomografia, e lá chegando, entre idas e vindas, sendo que a cada ida e a cada vinda, eu tinha que repetir toda a história que me aconteceu, tanto para o estudante de medicina como para o médico da vez, num cansaço que a gente fica doido para ir embora, e assim me foi feito, quando os médicos disseram que eu não precisava fazer tomografia mas precisava ir para casa e procurar um neuro para investigar (como? de que jeito? aonde? com que dinheiro?). Isso tudo acontecendo, e na TV do hospital, Fátima Bezerra discursava e comemorava, num programa de notícias, a sua reeleição para o governo do estado. Me botam pra ir embora, me sinto humilhado e nu, por sair do hospital e ninguém ter me dito nada, nem interesse em buscar o que provocou aquilo em mim, ao ponto da minha companheira ter vivenciado experiência tão terrível, me tendo por morto depois do desmaio. Senti aquilo tudo, vou em busca de atendimento e volto "apenas" com a testa costurada, e muito abuso de médicos, que quando indagados sobre qualquer dúvida nossa, ficavam cada vez mais irritados. Um deles, em um corredor, por um celular, discutia asperamente com alguém do outro lado da linha, enquanto eu aguardava ao lado o atendimento do médico furioso. Já fora do hospital, desolado, por não saber o que fazer, aparece um residente que presenciou o atendimento, e para consolar disse que não adiantava ficar ali porque seria gasto de dinheiro público sem necessidade, comigo(eu não acreditava que ouvia aquilo do futuro médico). E assim estou eu. Pensei, de imediato, nas pessoas mais simples, que não têm como rebater qualquer coisa, que se dirige a um médico como uma autoridade, chamando de doutor, como devem ser pisoteadas, pelos médicos no hospital, e ultimamente pela maior parte dos políticos que vão à periferia, "distribuindo bondade e esperança".
Cada vez me sinto mais abandonado pelo estado brasileiro, em todos os níveis. Como trabalhador de cultura do Brasil eu sou mal olhado em nível federal porque não há interesse, já que temos um governo que persegue artista, não à toa a Lei Paulo Gustavo que poderia ser um alento nesse final de ano, para quem não tem a quem pedir socorro, foi adiada pelo presidente; no plano estadual não há perseguição mas também não há sinal nenhum de vida, ou seja, não há nada. O governo do RN espera a Lei Paulo Gustavo, como nós trabalhadore(a)s da cultura estamos também; no municipal, em Mossoró, é bem mais difícil, horrível, porque há uma perseguição para qualquer trabalhador(a) da cultura que faz crítica à gestão, sendo impedido(a) de participar de qualquer ação municipal, com o nome no caderno dos excluídos. E eu não me vejo calado. Temos três esferas para nos amparar e somos maltratados nas três.
E esse abandono se alastra para todos os setores e segmentos. Imagine que hoje a gente vive de apresentar nos bairros, através do que é arrecadado no chapéu, e aí você adoece, e quem faz a apresentação por você? E isso é só uma fatia dos milhões de brasileiros e brasileiras que estão jogado(a)s ao relento, sem qualquer amparo. Daqui a 15 ou 20 anos, quanto(a)s irmã(o)s brasileiros estarão entrando numa idade mais avançada sem garantia nenhuma para sobreviver no restante de seus dias?
A Constituição nos garante saúde, mas quem garante o cumprimento da Constituição?
”...eu talvez seja o cara que você ama odiar
Inimigo do peito
Cá em casa quem morre se torna querido
Tido e havido por justo e inocente
Mas pode ir tirando o cavalo da chuva que eu não vou nessa de morrer
Só para agradar vocês…"
Vou passar uns dias afastado daqui, me recuperando para seguir. Com tudo isso, mesmo assim, acredito que podemos melhorar, mas para isso, só através de um debate profundo sobre nossos problemas, o que não acontecerá nessa estrutura política que nos esmaga, cheia de pensamento velho.
Vou ficar bem e volto em alguns dias!
Até logo!