Em ato na manhã deste domingo (23/5), logo após a “motociata” organizada por apoiadores no Rio de Janeiro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a criticar governadores e prefeitos por decretarem medidas de restrição de circulação de pessoas, como lockdown e toque de recolher, para conter a pandemia da Covid-19. Foto: Aline Massuca/Metrópoles
“O meu Exército jamais irá às ruas para manter vocês dentro de casa”, afirmou, em discurso durante ato no Aterro do Flamengo. “Hoje vocês já sabem o que é uma democracia e uma tentativa de ditadura patrocinada por esses governadores”, prosseguiu. O mandatário também disse lamentar todas as mortes, “não importa a motivação”, mas afirmou que é necessário “viver, ter alegrias, ambições, esperanças”.
O chefe do Executivo federal está acompanhado do filho e vereador do Rio, Carlos Bolsonaro (Republicanos); dos deputados federais Helio Lopes (PSL-RJ) e Marco Feliciano (Republicanos-SP); e dos ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura) e Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil).
O ex-ministro da Saúde general Eduardo Pazuello – que depôs, na semana passada, por mais de 16 horas na CPI da Covid – também compareceu ao evento. No local, ele retirou a máscara e foi recebido com aplausos.
VEJA DISCURSO NA INTEGRA
Quis o destino que eu sobrevivesse e quis Deus que eu chegasse à Presidência da República. Todos nós temos uma missão aqui na Terra. A cruz é pesada, mas Ele ajuda a carregá-la toda vez, com todos vocês. A vocês, a minha lealdade, o meu respeito, o meu compromisso de lutar por aquilo que é o mais sagrado: a nossa liberdade. Imagine se o poste tivesse sido eleito presidente da República, como estaria nosso Brasil no dia de hoje?. [Deixa] dizer a vocês que lamento cada morte no Brasil, cada morte, não importa a motivação da mesma. Mas nós temos que ser fortes, nós temos que enfrentar os desafios, temos que viver e sobreviver. Desde o começo, eu disse que tínhamos dois problemas: o vírus e o desemprego. Muitos governadores e prefeitos simplesmente ignoraram a grande maioria da população brasileira e, sem qualquer comprovação científica, decretaram lockdowns, confinamentos e toque de recolher. Hoje vocês já sabem o que é uma democracia e uma tentativa, um início de ditadura patrocinada por esses governadores. Nós não tiramos emprego de ninguém, muito pelo contrário. Fizemos o possível para que eles fossem mantidos. Estamos ainda em momento difícil, mas, se Deus quiser, logo ele passará. Mas nós temos que viver, nós temos que ter alegrias também, nós temos que ter ambições, nós temos que ter esperança. E vocês sabem que, em qualquer momento, eu sempre estarei ao lado de vocês. Quando alguns falam que eu deveria ter decretado lockdown nacional, fique bem claro para vocês: o meu Exército brasileiro jamais irá às ruas para manter vocês dentro de casa. O meu Exército brasileiro e a nossa Polícia Militar, a nossa Polícia Rodoviária Federal que está aqui. É obrigação nossa lutar por liberdade, lutar por democracia e realmente fazer com que o nosso país mude. Pode ter certeza: nós juramos dar a vida pela pátria e vocês, mais do que isso, têm compromisso para com a liberdade. O nosso Exército são vocês. Mais importante que o Poder Executivo, o Poder Judiciário, o Poder Legislativo, é o poder do povo brasileiro. A gente pede a Deus que não seja necessário, que todas as autoridades se conscientizem dos seus direitos e dos seus deveres. Nós estamos prontos, se preciso for, para tomar medidas necessárias para garantir a liberdade de vocês. É inadmissível quando um poder usurpa direitos e garantias individuais previstos no artigo 5º da Constituição. Nós temos o sagrado direito de ir e vir, nós temos o direito de trabalhar, nós temos o direito de professar nossa fé, ir às igrejas e se encontrar com Deus. Esses direitos não podem ser usurpados. Infelizmente sentimos o que é um poder delegar a outro esses direitos inalienáveis. Não é ameaça, jamais ameaçarei qualquer poder, mas – como disse – acima de nós, dos três poderes, está o primeiríssimo poder, que é o povo brasileiro. Pode ter certeza: nós faremos tudo para que a vontade popular seja realmente efetivada. Estamos no final de uma pandemia, se Deus quiser. Espero brevemente partimos para normalidade. Enquanto isso, uma manifestação como essa, onde tivemos um amplo apoio de motociclistas de todo o Brasil, isso nos anima, isso nos traz oxigênio, isso nos traz responsabilidade e autoridade também para poder agir em nome de vocês. [Eu e] Os meus 22 ministros – aqui presente o Tarcísio, entre outros – sabemos da nossa responsabilidade. Podem contar conosco. Afinal de contas, só estamos lá exatamente por causa de vocês. Então, amigos do Rio de Janeiro, amigos do Brasil, um momento como esse realmente não tem preço. Ser reconhecido e ser, por que não dizer, aplaudido por grande parte da população, apesar das dificuldades. Tem uma passagem bíblica de provérbios que diz: se você se mostrar frouxo no dia da angústia, a sua força será pequena. O povo brasileiro é forte. Em sua grande maioria, sabe dar valor à liberdade e aos seus direitos. Reconhece os verdadeiros representantes: aqueles que realmente estão ao seu lado e queiram estar. Pode ter certeza: não digo aos poucos, mas vamos, sim, cada vez mais, fazendo com que as pessoas eleitas por vocês melhorem a sua qualidade. Nós temos esse compromisso. Da minha parte, eu jurei dar minha vida pela pátria não apenas quando prestei o serviço militar, na Escola Preparatória de cadetes do Exército, em Campinas, mas quando assumi a Presidência. Sei da enorme responsabilidade que eu tenho, mas sei também do povo maravilhoso que nos apoia. A todos vocês, meus amigos do Brasil e do Rio de Janeiro, muito obrigado a todos vocês. Motociclistas de todo o Brasil, muito obrigado pela presença. Vocês abrilhantaram esse evento, que não é meu, é de vocês, é do povo, é da democracia e da nossa liberdade.
Brasil acima de tudo, Deus acima de todos!
“Motociata”
Bolsonaro participou, na manhã deste domingo, de um passeio com motociclistas no Rio, reduto eleitoral do mandatário e de dois de seus três filhos políticos. Organizado por apoiadores, o grupo de motociclistas saiu às 10h do Parque Olímpico da Barra da Tijuca e percorreu um percurso de 35 km até chegar à zona sul. O titular do Palácio do Planalto saiu na frente, conduzindo o comboio.
Um pelotão presidencial foi montado à frente, com ministros e pessoas próximas ao mandatário. Atrás, seguiu o grupo maior de apoiadores.
Ao longo do percurso, simpatizantes se reuniram nas vias para cumprimentar e acenar ao presidente. O evento acabou virando uma manifestação popular de apoio ao presidente, apelidada de “motociata”. Com bandeiras do Brasil e faixas pró-governo, pedestres e banhistas gritavam palavras como “mito”.
Mais de mil policiais militares foram deslocados de quatro batalhões para acompanhar o pelotão.
“Uma manifestação como essa, onde tivemos um amplo apoio de motociclistas de todo o Brasil, isso nos anima, isso nos traz oxigênio, isso nos traz responsabilidade e autoridade também para poder agir em nome de vocês”, afirmou Bolsonaro de cima de um carro de som.
Organizadores do evento esperavam 10 mil motociclistas. O passeio durou cerca de uma hora e meia.
O chefe do Executivo federal decolou para o Rio por volta das 7h. Após o pouso no Galeão, ele seguiu de helicóptero para o local de concentração. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) acompanhou o trajeto para auxiliar na segurança do presidente.
Pandemia
Contrariando orientações das autoridades sanitárias, o presidente e a maior parte dos simpatizantes não usaram máscaras e provocaram aglomerações. O chefe do Executivo é crítico de medidas de controle adotadas para conter a disseminação do coronavírus.
Decretos municipal e estadual no Rio de Janeiro, no entanto, obrigam o uso de máscaras. O descumprimento da norma é passível de multa.
O Brasil acumula 448.208 óbitos por Covid-19 e computou 16.047.438 casos de contaminação desde o início da pandemia. No estado do Rio, foram registrados mais de 49 mil mortes e 840 mil casos.
Segundo dados da Secretaria de Saúde do Rio de Janeiro, a taxa de letalidade da Covid-19 no estado está em 5,89%, a maior do país. A taxa de ocupação em leitos de UTI no Rio é de 84%, mas faltam medicamentos e há registro de filas para internação.
*Por: Metrópoles/Jair Sampaio
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