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20 abril 2020

APODI-RN: UM MÊS APÓS MORTE DA MÃE, FILHOS AGUARDAM RESULTADO DE EXAME DE CORONAVÍRUS: 'INDIGNADOS'

Roberlândia Carvalho morreu no dia 19 de março por complicações respiratórias na UPA Nova Esperança, em Parnamirim.
Maria Roberlândia com os filhos, João Paulo e Jéssica — Foto: Arquivo da família
Mais de um mês após a morte de Maria Roberlândia de Carvalho Gomes, os familiares dela ainda não sabem o que provocou o óbito. A suspeita de morte por Covid-19 está sendo investigada pelos órgãos de saúde do Rio Grande do Norte, mas o resultado do exame ainda não saiu.
Desde então, os parentes não têm qualquer informação sobre esse processo, nem foi dado prazo para o resultado do exame realizado no corpo. “Estamos indignados”, diz Jéssica Carvalho, filha de Roberlândia.
Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) afirmou que aguarda o resultado do teste para coronavírus que foi colhido e enviado para o Instituto Evandro Chagas, no Pará. A Sesap também disse que pediu prioridade para esse exame.
Roberlândia tinha 47 anos de idade e era faxineira de uma loja de venda de carros seminovos. Ela não havia sido sequer identificada como paciente suspeita do novo coronavírus quando morreu, no dia 19 de março. O exame para identificação da doença não foi realizado antes da morte dela.
A filha dela, Jéssica Carvalho, alega que, aos parentes, foi dito extraoficialmente que seria realizada uma viscerotomia, para saber ela havia morrido de Covid-19. Trata-se de uma técnica de retirada de pedaços dos órgãos para a realização de diagnósticos. “Como não tinham feito o exame para identificar a doença em vida, precisaram fazer esse”, justifica a filha.
Porém, Jéssica conta que entrou em contato com a Sesap e a Secretaria de Saúde de Parnamirim, e que nenhuma das pastas deu detalhes ou confirmou o procedimento. “Eles não nos dão informações. Por que escondem isso da gente? Nós temos o direito de saber”, reclama.
Ela afirma que já tentou saber detalhes sobre o exame da mãe várias vezes e em nenhuma delas obteve informações conclusivas. “Nós queremos saber o que houve”, reforça. Ainda segundo a filha de Roberlândia, os familiares que conviviam com ela não tiveram sintomas da doença, contudo não foram realizados exames nos parentes para saber se eles contraíram Covid-19.
O caso
Maria Roberlândia morreu em uma quinta-feira, dia 19 de março, na UPA Nova Esperança, em Parnamirim, Grande Natal. Na época, o G1 conversou com o filho dela, João Paulo Gomes, que disse que a mãe começou a sentir os sintomas no fim de semana anterior ao óbito. “Todos nós gripamos aqui em casa e ficamos bem depois. Ela não melhorou”, relatou na ocasião.
Maria Roberlândia morava com o marido, o filho, a nora e uma neta de quatro anos de idade no bairro de Nova Parnamirim. De acordo com o filho, ela procurou o médico na rede particular quando os sintomas se agravaram, no dia 17 de março.
João Paulo Gomes conta que o médico que a atendeu identificou que ela estava com sintomas do novo coronavírus: falta de ar, tosse e febre. Foi aí que orientou que Maria Roberlândia procurasse a rede pública de saúde, para realizar os testes e confirmar ou não a suspeita.
O encaminhamento dado à paciente, ao qual o G1 teve acesso, orientou que fosse realizado um “exame de imagem” (raio-x), para que se investigasse a possibilidade de Covid-19. Ainda segundo João Paulo, a mãe dele seguiu direto para a Unidade de Ponto Atendimento (UPA) Nova Esperança, em Parnamirim.
Raio-x não foi realizado
Jéssica Carvalho afirma que o raio-x não foi realizado na UPA. Além disso, apesar de apresentar os sintomas, ao ser questionada se havia tido contato com algum estrangeiro e responder que não, Maria Roberlândia não se enquadrou como caso suspeito do novo coronavírus, e o exame para a detecção da doença também não foi feito.
Na época, a orientação do Ministério da Saúde determinava que, para fazer o teste, era necessário preencher alguns requisitos. Ter tido contato com pessoas de fora do país, ou infectadas era um deles.
João Paulo Gomes contou que na época que Roberlândia foi medicada e liberada. A faxineira voltou para casa, mas o quadro de saúde não apresentou evolução. Já na manhã do dia 19, com muita falta de ar, foi levada novamente à UPA, desta vez pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Ele disse que a mãe foi entubada e, às 11h do mesmo dia.
De acordo com nota enviada pela Secretaria de Saúde de Parnamirim à imprensa no dia da morte, os médicos que atenderam Maria Roberlândia na UPA afirmam que ela apresentava situação compatível com quadro bacteriano e não com Covid-19. Contudo a secretaria admite a possibilidade de ela ter se contaminado pelo vírus depois.
Jéssica Carvalho lembra que, para o sepultamento, não houve orientação. A família por si só que tomou as providências para que o enterro ocorresse de acordo com as determinações para casos de Covid-19. “Não tínhamos a confirmação, não sabíamos se era suspeita oficialmente. Mas ficou o preconceito das pessoas. Para todos é como se ela tivesse falecido disso”.
O enterro aconteceu com caixão lacrado, com 10 pessoas presentes e durou 10 minutos. “Nós precisamos saber o que aconteceu, se minha mãe faleceu por causa dessa doença. Nós não sabemos de nada”.

Maria Roberlândia tinha 47 anos e morreu com problemas respiratórios em Parnamirim, na Grande Natal — Foto: Arquivo da família

*Do G1 RN/Passando na Hora

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