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20 agosto 2022

Pesquisadores do RN criam antisséptico para prevenir infecções em animais usados na produção leiteira

Um grupo de pesquisadores do Rio Grande do Norte criou uma inovação na área veterinária e farmacêutica: um produto para ser usado na pós-ordenha, capaz de prevenir infecções mamárias em caprinos e bovinos, como a mastite.

O produto foi elaborado por inventores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa).

Denominado Antisséptico à base de extrato pirolenhoso de eucalipto para uso na pós-ordenha de animais leiteiros, a solução tem componentes naturais, renováveis e que não agridem o ambiente nas fases de produção e utilização, de acordo com os pesquisadores.

Coordenador do grupo que envolve dez pesquisadores, Alexandre Santos Pimenta explica que a tecnologia tem como princípio ativo o extrato pirolenhoso (EP), um coproduto líquido da produção industrial do carvão vegetal com efeito antibiótico comprovado cientificamente.

“Os resultados da pesquisa, com processo de produção e produtos patenteados, vem de uma parceria formada há quatro anos. Os resultados de laboratório e de campo comprovaram o efeito antibiótico do produto, apresentando a mesma eficácia em comparação com produto convencional de referência. Além disso, não ocorreu alteração na qualidade do leite, sequer alteração no metabolismo das células dos tetos dos animais, tampouco efeito tóxico às células dos animais”, afirmou.

A mastite é um processo inflamatório da glândula mamária nos animais leiteiros provocada por bactérias. Esses micróbios costumam atuar no período da pós-ordenha, momento em que os canais das tetas dos animais estão abertos e funcionam como entrada para os chamados microrganismos patogênicos. A inflamação pode provocar perdas na produção.

Um dos caminhos para inibir a ocorrência de mastites é o uso justamente de antissépticos, como o desenvolvido de forma inédita pelos cientistas da UFRN e da Ufersa. Essas substâncias podem provocar a redução do número de bactérias na pele dos tetos em mais de 90% depois da ordenha.
Contudo, de uma forma geral, os microrganismos causadores da mastite vêm adquirindo resistência aos produtos antibióticos usados para o controle da doença, seja pelas limitações de cada antisséptico ou o uso inadequado ou em baixas concentrações de químicos antimicrobianos.

Uma outra explicação é a capacidade desses micróbios de formar colônias bacterianas denominadas biofilmes, um tipo de agrupamento com estrutura que dá proteção contra condições adversas. Segundo a universidade, a situação leva a uma seleção natural de cepas resistentes e por isso a importância da utilização de novos produtos para limpeza pós-ordenha.

A invenção
Professor da Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ), Alexandre Pimenta identifica que a invenção desse novo produto, cujo depósito de pedido de patente ocorreu em junho, refere-se a um processo de produção e purificação de extrato pirolenhoso (EP) em grau farmacêutico, concentração do produto para redução do teor de água e seu posterior uso após diluição em água.

O processo parte da carbonização da lenha, passando pela produção dos líquidos pirolenhosos brutos e posterior refino e ultrainfiltração desses líquidos para obtenção do EP grau farmacêutico.

Ele contextualiza que um ponto importante na caminhada aconteceu a partir de uma publicação de 2020, fruto da dissertação de Waleska Nayane Costa Soares, na qual foi feito um trabalho exploratório com extratos pirolenhosos de duas espécies florestais, a jurema-preta e o eucalipto.

Nessa pesquisa, os pesquisadores viram a necessidade de ser formulado um produto antisséptico a partir de extratos pirolenhosos e não somente utilizar esses extratos em seu formato original, porque sozinho o extrato não era efetivo. Este segundo passo acontece nos dois anos seguintes.

“Apesar da conexão, no presente pedido de patente, as reivindicações se referem a uma formulação concentrada e aditivada com alguns componentes, além da adição de emulsificantes, ou seja, um produto em que o extrato pirolenhoso foi primeiramente processado e purificado em grau farmacêutico e testado para comprovar a ausência de uma série de contaminantes que o habilitassem a receber esse grau de pureza. A seguir, o EP grau farmacêutico passou por um processo de concentração por evaporação e depois uma aditivação com dois outros componentes. Trata-se, portanto, de uma formulação inteiramente nova. Disso resultou o antisséptico, produto natural derivado de lenha de reflorestamento do eucalipto clonal, viável tecnicamente, um produto com baixo custo de produção e utilização, cujo processo de obtenção não é agressivo ao meio ambiente em nenhuma das suas etapas”, explica o docente do curso de Engenharia Florestal.

O estudo utilizou as instalações do Laboratório de Tecnologia da Madeira e Energia da Biomassa Florestal, da UFRN, e do Laboratório de Microbiologia Veterinária e Biotecnologia Animal, da Ufersa.

O Brasil e o leite

Com mais de 35 bilhões de litros de leite produzidos no ano de 2021, o Brasil está no grupo de maiores produtores de leite do mundo, junto com Estados Unidos, Índia e China. Ao todo, a sua cadeia produtiva engloba cerca de 50 milhões de animais.


Dados da Embrapa publicados em 2020 mostravam que, especificamente em relação a vacas ordenhadas, o Brasil detinha o segundo maior rebanho no mundo, atrás apenas da Índia.

"As infecções causadas por microrganismos sempre são uma preocupação em qualquer área da saúde. A alta incidência da mastite nos rebanhos leiteiros provocam prejuízos de quase R$ 9 bilhões por ano, entre perda de produção, custos para o produtor rural com consultas e medicação e até descarte de animais. A preocupação, portanto, extrapola a área veterinária em si, já que traz prejuízos à indústria pecuária como um todo, e justifica o desenvolvimento de produtos como o nosso”, finaliza Alexandre.

*Do G1 RN

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